Afinal,
a cloroquina é ou não é efetiva no
tratamento da Covid-19?
À
época da escrita deste post (15/05/2020) a resposta
foi: ainda não sabemos.
Entretanto, hoje (15/05/2023), a resposta é: não,
não é efetiva.
Mas,
por que não podíamos afirmar sobre sua (in)efetividade
em maio de 2020?
No
início da pandemia especulou-se acerca da possível
efetividade da cloroquina
e da hidroxicloroquina, medicamentos indicados para
malária e doenças reumáticas, como
tratamento precoce para a Covid-19. Juntamente com a ivermectina,
um antiparasitário indicado em casos de infecções
por lombrigas e piolhos, estes medicamentos integravam o
chamado “Kit
Covid”, distribuído entre 2020 e 2021,
por algumas redes de saúde e defendido por alguns
membros do governo federal da época. A indicação
desses medicamentos teve início após publicações
de estudos que testaram sua eficácia
in vitro, ou seja, em tubos de ensaio. Contudo,
antes que um medicamento possa ser prescrito por médicos,
um medicamento passa por várias fases de testes.
Inicialmente, são feitos estudos bioquímicos
em modelos ou animais. Após a conclusão desta
fase de pesquisa
experimental, iniciam-se diversas etapas de pesquisas
clínicas com seres humanos. As pesquisas clínicas
avaliam não só a atividade terapêutica,
mas também a toxicidade dos medicamentos. Além
destes aspectos
científicos, os testes envolvem aspectos sociais,
econômicos
e políticos e éticos.
No
início, o uso do “kit covid” ficava a
cargo da
decisão do médico em relação
a um paciente específico. Entretanto, em seguida
aos testes conduzidos in vitro, foram conduzidos testes
in vivo, isto é, em organismos vivos, que comprovaram
a ineficácia destes medicamentos no tratamento da
doença. Além da ineficácia, outros
estudos demonstraram que a utilização dos
remédios associados ao Kit Covid apresentavam riscos
de causar problemas de saúde adicionais nos pacientes,
como problemas renais e hepáticos. O uso do kit-Covid
em pacientes com Covid-19 passou de controverso
a contraindicado.
Ainda assim, ele continuou a ser ministrado, num cenário
no qual o Ministério da Saúde, por um lado,
incentivava o uso destes medicamentos e, por outro, criava
obstáculos ao desenvolvimento e à aquisição
de vacinas. Tal postura resultou na abertura de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito, a
CPI das vacinas, para averiguar possíveis irregularidades
na condução das medidas de controle da pandemia.
Hoje,
concluídos os testes, e após diversos
ensaios clínicos controlados randomizados (ECRs),
pode-se afirmar que a cloroquina não atua nem na
prevenção nem na redução
de sintomas da Covid-19. Outros medicamentos
continuam sendo testados para o tratamento da Covid19,
mas
até o momento não há pesquisas clínicas
conclusivas que tenham avaliado os riscos e benefícios
da sua administração.
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